O espaço ficou distante demaise eu já não conto estrelas.Crescemos e nos tornamosdescuidados conosco.(Eu sempre muito mais atabalhoada que você).Os pés no chão não parecem âncoras,mas são.E as naus vagam feitobarquinhos de papel passeando numa sarjeta qualquer num dia, assim, mais pluvial.Eu tenho sede de outras coisasAquele arrepio do vento,de tesão em ir, é só um suspiro frio.As hibernações viraramconseqüências simplesdas coisas mundanas e tangíveis que nos tornam os egoísmos aceitáveis e nos fazem pedir desculpas pelas ausências prometendo presenças sem círculos vermelhos na agenda.(Pena que meu umbigo não me dê seus bons conselhos.Acho que eu me preocupo mais com ele que ele comigo no final das contas.)Um dia os bilhetinhos iam rarearEu sabia. Você também.E haveria outros destinatáriosPara tentar roubar, sem sucesso Este algo que é só meu e seu.Talvez seja por isso que hoje os carteiros não mais se anunciem: Eles apenas enfiam suas palavras por debaixo de minha porta,sem procurar saber quando eu estou em casa dormindo comigo.Sem o cuidado que merecem essas cartas silenciosas que chegam mesmo sem que você indique o endereço.Essas cartasque você me escreve com caneta permanenteem folhas de papel-espelho.
Ana Paula Mangeon
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