Título: Fora de Mim
Autora: Martha Medeiros
Páginas: 131
A porta bate e logo se ouve a partida do motor: o carro levanta do chão uma sombra pesada, um zumbido surdo. No apartamento, ela se equilibra, tenta achar o prumo.
Ele se foi. Ela sabia. (...)
Martha Medeiros nos faz testemunhas de um momento crucial, terrível, na relação amorosa – aquele em que a paixão acaba, por mais intensa que tenha sido.
Com sua escrita fluente e cristalina, que parece cravar as unhas na pele da personagem, a autora inicia sua narrativa no instante da despedida, da queda, do fim trágico, nem além nem aquém da dor maior: quando se tem a certeza de que não há mais volta.Só depois o leitor chegará ao antes, compreendendo como tudo se teceu por que assim aconteceu, como tudo afinal, foi ficando fora do controle.
"Soube que
você segue com ela, aquela que não era significativa,
aquela que não era
importante, aquela que estava
apenas te distraindo, enquanto você não me
esquecia."
(pág 51)
"O que
havia entre nós era apenas uma vontade, uma enorme e insaciável vontade de
investigar o que haveria no lado oculto da lua, ver onde essa maluquice iria
dar, aonde poderíamos chegar, quem aguentaria mais tempo, quem seria o primeiro
a jogar a toalha, e feito duas crianças prendemos a respiração e mergulhamos um no outro para,
em tese, nunca mais emergir. Eu vivia em êxtase, a cada manhã eu acordava para
uma surpresa, nenhum dia foi igual ao outro e eu nunca mais fui igual a mim
mesma, estava indecentemente alegre, espantada, moleca, e mesmo quando ficava
enfurecida com seus delírios sobre outros homens, ainda assim aquela era eu
fora de esquadro, eu descentralizada, nunca havia me dado esse direito antes.
Eu sei por que eu disse que te amava depois daquela transa, com tão pouco tempo
de convívio: porque eu estava me amando pelo primeira vez na vida." (pág 67)
"Hoje me
pergunto se você me amou de verdade. Mantenho
bem guardadas as nossas fotos, bilhetes, cartas, e-mails, e esse espólio
sentimental registra um amor com toda a pinta de ter existido, mas não descarto
a hipótese de você ter apenas projetado um amor em mim pra vencer sua carência existencial,
que era do tamanho da muralha da China, visível a olho nu a milhões de metros
de distância. De minha parte, você me fez feliz e eu sei exatamente quando,
como e por quê. Em contrapartida, olho pra trás e não lembro de ter feito você
feliz da mesma forma, ao menos não com o mínimo de seriedade: você nunca me
considerou um repouso, um porto, um albergue. A impressão que eu tinha é que
minha presença funcionava como um dispositivo que fazia você entrar em euforia
ou em surto (...) E se eu ao menos eu fosse considerada uma aliada sua, mas não,
eu era mais um elemento do exército oposto, aquela que estava mais perto e que
podia receber seus golpes mais certeiros. Você nunca foi violento, mas era
cruel"(pág 76-77)
A leitura
nos faz tomar as dores da personagem: a dor da perda, a dor da solidão, a dor
da culpa, a dor do arrependimento. Porém, em outros capítulos ficamos ao lado
do personagem (homem), que foi além de tudo
vítima de todo esse não-relacionamento. O livro além de ter uma leitura que te
prende do início ao fim, nos faz perceber que em algum momento de nossas vidas
já passamos por situações parecidas, e agimos de forma igual ou pior. O momento
do fim de uma relação é dolorosa demais, mas temos duas escolhas: ou ficar nos
lamentando pelo o que acabou e não volta mais, ou erguer a cabeça e seguir em frente.
Ao final do livro, a personagem toma uma decisão, e você leitor, com certeza
vai tomar a sua também.
Simplesmente P-E-R-F-E-I-T-O!! De todos os livros da Martha Medeiros (na minha opinião), esse é o
melhor. Nota 10!
“ Preciso
que saiba: nunca deixarei de pensar em você, porque você foi o amor menos
elaborado que tive, menos politicamente correto, menos "o cara certo na hora certa", menos criado no
cativeiro da idealização, e essa impossibilidade de intelectualizar o que senti
me faz pensar que talvez eu não estivesse enganada sobre aquela ideia romântica
de que só se ama assim uma vez. (pág 128)”
Conheciam esse livro? Já leram? Me conte aqui !
Um beijo.
Carol.
♥